Assim como Luciana Santos e tantas outras pessoas, também me sinto
indignado com os resultados apresentados, pois eles nos remetem a dura
realidade que o outro é o outro, quando este outro e outra deveriam ser a
imagem e semelhança de Deus... A muito para “encontrarmos” a “terra prometida”,
mas há muito que ser feito neste caminho.
Por Luciana Santos
Neste mês
de março, que já está chegando ao fim, realizamos uma verdadeira maratona pelo
estado de Pernambuco conversando com as pessoas, nos mais diferentes lugares e
Instituições, sobre os direitos das mulheres e a necessidade imperiosa de
darmos um basta à violência contra a mulher. Quase chegando ao fim do nosso
roteiro de 65 atividades pela desconstrução da cultura do machismo recebo o
resultado da pesquisa divulgada nesta quinta-feira (27) pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
De acordo
com o estudo 58,5% dos entrevistados concordam totalmente (35,3%) ou
parcialmente (23,2%) com a frase "Se as mulheres soubessem como se
comportar, haveria menos estupros". O levantamento diz ainda que 65,1%
concordam inteiramente (42,7%) ou parcialmente (22,4%) com a frase
"Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas".
É chocante! Em que mundo uma pessoa pode achar que outra MERECE ser
estuprada por qualquer que seja a razão?!
Os números
não são exatamente inesperados. Sabemos da grande carga cultural que envolve as
questões que dizem respeito à mulher, mas olhar a estatística nos dói de uma
maneira diferente. Essa inversão de
papéis entre agredidas e agressores não pode mais ser tolerada. É preciso
combater a cultura do machismo que responsabiliza a mulher pela brutalidade,
pela ignorância e pela violência. Essa
cultura que desrespeita a mulher em seu lar, em seu trabalho e na rua está na
base de uma sociedade que não pode avançar para o caos, onde não há
fraternidade, onde não solidariedade, onde não há justiça. Não é esse mundo que
queremos!
É preciso que cada um de nós, homens e mulheres, dediquemos um minuto
que seja do nosso dia para pensar nessa escalada da violência contra a mulher.
Precisamos perguntar a nós mesmos se uma pessoa quer ou merece ser vítima de
uma agressão. Pensar no horror de um estupro. Pensar na dor de uma bofetada.
Pensar no que se perde em cada vida sacrificada em nome do sentimento de posse
e do senso comum do “não é comigo”. Um minuto dedicado a pensar se nós, nossas
mães, irmãs, esposas, companheiras, namoradas, amigas, filhas... se essas
mulheres merecem a dor, a humilhação e o sofrimento pelo simples fato de
reivindicarem o direito de estar viva e de conviver em sociedade.
Os números são o retrato de uma realidade muito triste e cruel. Eles
confirmam que ainda há muito trabalho a ser feito, o que para mim aumenta a
responsabilidade e a força para persistir na luta. A cada mente conquistada uma
vida pode ser poupada. É com esse pensamento que reforço, a cada homem e cada
mulher, a relevância de sua participação nessa luta. Mudar as coisas, construir
um mundo de justiça e igualdade social depende de nós, de nossa força, de nossa
capacidade de não desanimar diante dos desafios.
Nenhuma mulher pede para ser
estuprada. Nenhuma! Nenhuma mulher pede para ser agredida. Nenhuma! Nenhuma
mulher merece a violência. Nenhuma! Renovemos nossas forças, ergamos alto a
nossa voz, sigamos juntos pelo fim da violência e defendendo até o último
minuto o direito de cada mulher desse planeta a liberdade, ao respeito e a
felicidade.
Luciana Santos é deputada federal e vice-presidenta do PCdoB