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Postado em 11/12/2012
Nota de solidariedade a Dom Pedro Casaldáliga

Ao se aproximar a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, após mais de 20 anos de invasão, quando os não indígenas estão para ser retirados desta área, multiplicam-se as manifestações de fazendeiros, políticos e dos próprios meios de comunicação contra a ação da justiça.
Neste momento de desespero, uma das pessoas mais visadas pelos invasores e pelos que os defendem é Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a quem estão querendo, irresponsável e inescrupulosamente, imputar a responsabilidade pela demarcação da área Xavante nas terras do Posto da Mata.
As entidades que assinam esta nota querem externar sua mais irrestrita solidariedade a Dom Pedro. Desde o momento em que pisou este chão do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos interesses dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos sabem que Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de terra pelos posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que possibilitou a criação da maior parte dos municípios da região.
Em relação à terra indígena Marãiwatsèdè, dos Xavante, os primeiros moradores da região nas décadas de 1930, 40 e 50 são testemunhas da presença dos indígenas na região e como eles perambulavam por toda ela. Foi com a chegada das empresas agropecuárias, na década de 1960, com apoio do governo militar, que a Suiá Missu se estabeleceu nas proximidades de uma das aldeias e até mesmo conseguiu o apoio do Serviço de Proteção ao Indio para se ver livre da presença dos indígenas. A imprensa nacional noticiou a retirada de 289 xavante da região os quais foram transportados em aviões da FAB, em 1966, para a aldeia de São Marcos, no município de Barra do Garças.
Em 1992, a AGIP, empresa italiana que tinha comprado a Suiá Missu das mãos da família Ometto, quis se desfazer destas terras. Por ocasião da ECO-92, sob pressão inclusive internacional, a empresa destinou 165.000 hectares para os Xavante que, durante todo este tempo, sonhavam em voltar à terra de onde tinham sido arrancados. Imediatamente fazendeiros e políticos da região fizeram uma grande campanha para ocupar a área que fora reservada aos Xavante, precisamente para impedir que os mesmos retornassem.
Já no dia 20 de junho de 1992, algumas áreas tinham sido ocupadas e foi feita uma reunião no Posto da Mata, da qual participaram políticos de São Félix do Araguaia e de Alto Boa Vista e também havia repórteres. A reunião foi toda gravada. As falas deixam mais do que claro que a invasão da área era exatamente para impedir a volta dos Xavante. “Se a população achou por bem tomar conta dessa terra em vez de dá-la para os índios, nós temos que dar esse respaldo para o povo” (José Antônio de Almeida – Bau, prefeito de São Félix do Araguaia). “A finalidade dessa reunião é tentarmos organizar mais os posseiros que estão dentro da área… Se for colocar índio no seu habitat natural, tem que mandar índio lá para Jacareacanga, ou Amazonas, ou Pará…” (Osmar Kalil – Mazim, candidato a prefeito do Alto Boa Vista). “Nós ajudamos até todos os posseiros daqui serem localizados… Chegou a um ponto, ou nós ou eles (os Xavante) porque nós temos o direito… Dizer que aqui tem muito índio? Aqueles que estão preocupados com os índios que tem que assentar. Tem um monte de país que não tem índio. Pode levar a metade… Na Itália tem índio? Não, não tem! Leva! Leva pra lá! Carrega pra lá! Agora, não vem jogar em nós, não… ( Filemon Costa Limoeiro, à época funcionário do Fórum de São Félix do Araguaia)
A área reservada aos Xavante foi toda ocupada por fazendeiros, políticos e comerciantes. Muitos pequenos foram incentivados e apoiados a ocupar algumas pequenas áreas para dar cobertura aos grandes. O governo da República, porém estava agindo e logo, em 1993, declarou a área como Terra Indígena que foi demarcada e, em 1998 homologada pelo presidente FHC. Só agora é que a justiça está reconhecendo de maneira definitiva o direito maior dos índios. O que D. Pedro sempre pediu, em relação a esta terra, foi que os pequenos que entraram enganados, fossem assentados em outras terras da Reformas Agrária. Mas o que se vê é que, ontem como hoje, os pequenos continuam sendo massa de manobra nas mãos dos grandes e dos políticos na tentativa de não se garantir aos povos indígenas um direito que lhes é reconhecido pela Constituição Brasileira.
Mais uma vez, queremos manifestar nossa solidariedade a Dom Pedro e denunciar mais esta mentira de parte daqueles que tentam eximir-se da sua responsabilidade sobre a situação de sofrimento, tensão e ameaça de violência que eles mesmos criaram, jogando esta responsabilidade sobre os ombros de nosso bispo emérito.

5 de dezembro de 2012
Conselho Indigenista Missionário – CIMI – Brasilia
 Comissão Pastoral da Terra – CPT – Goiânia
 Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia – São Félix do Araguaia
 Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção – ANSA – São Félix do Araguaia
 Instituto Humana Raça Fêmina – Inhurafe – São Félix do Araguaia
 Associação Terra Viva – Porto Alegre do Norte
 Associação Alvorada – Vila Rica
 Associação de Artesanato Arte Nossa – São Félix do Araguaia
 Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação – GPMSE – Cuiabá
 Associação Brasileira de Homeopatia Popular – ABHP – Cuiabá
 Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso – FDHT – Cuiabá
 Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ – Cuiabá
 Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD – Cuiabá
 Instituto Caracol – ICARACOL – Cuiabá
 Rede de Educação Ambiental de Mato Grosso – REMTEA – Cuiabá
Fonte: Cimi / Cimi Regional Mato Grosso


Postado em 20/06/12




Postado em 15/06/12

Encontro latino-americano e caribenho de articulação de CEBs


Um grupo de pessoas está reunido na cidade de San Pedro, Honduras, participando do 9º Encontro latino-americano e caribenho das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que acontece de 14 a 21 de junho.
“Refletimos sobre a inculturação de um novo paradigma de evangelização na América. Civilização e cultura são campos de conflito na sociedade continental. Fica claro que precisamos superar um culturalismo romântico e defender a inculturação, mostrando que existem alternativas e caminhos como resposta as demandas do tempo presente”, afirmou o padre Vileci B. Vidal, um dos coordenadores 13º Intereclesial.
O padre Vileci afirmou que o 9º Encontro está servindo de novas bases de articulação das CEBs no Continente Americano. “Neste dia de encontro, estamos tratando do relançamento das CEBs no continente dada nestes quatros anos de caminhada. Vimos que o 12º Intereclesial no Brasil foi o marco deste relançamento para revitalizar as CEBs, tendo como fruto o Documento 92 da CNBB. Além disso, o 13º Intereclesial nos fez ver que precisamos discutir mais a relação CEBs e Religiosidade Popular na América”.
O religioso continuou explicando: “Neste sentido, a missão é pela conquista da América como lugar do diálogo e relação intercultural no campo da evangelização numa atitude ecumênica. Pois, não podemos aceitar a mudança do mundo sem a nossa participação. Percebe-se que na América Latina se dá uma reconfiguração religiosa, cultural e social. Mais que adesão, se firma um cristianismo na busca da justiça, da paz e do amor. E isso está vinculado ao fenômeno da migração que reconfigura as identidades e as relações étnicas internacionais e no interior dos países. Na América Latina se trata de uma realidade com a qual convivemos sempre como espaço multicultural e muito étnico (DA 56 e 57). A inculturação não é só uma questão de justiça frente aos povos, mas necessária para não sucumbir a verdade cultural frente aos novos neocolonizadores da globalização neoliberal. Na América Latina cresce o grito contra a desigualdade, dada as demandas dos grupos indígenas e afro-americanos que resistem a entregar suas tradições milenares a globalização neocolonizadora e avassaladora”, destacou.
Boletim da CNBB  15/06/2012
Postado em 14/06/12



"Brasil não deve investir em energia nuclear".

Entrevista especial com Dom Jayme Chemello.
03/06/2012 | IHU On-Line

 "Seria oportuno que o Papa Bento XVI pudesse enviar um representante para a Ucrânia, para participar da celebração em memória dos mortos de Chernobyl", declara bispo emérito de Pelotas.
 Mais de duas décadas depois do acidente nuclear de Chernobyl, ainda é impossível contabilizar os prejuízos dessa tragédia, que deixou mais de 250 mil mortos e feridos e que destruiu famílias e contaminou o meio ambiente de forma irreversível. Embora os efeitos da radiação em humanos tenham diminuído nos últimos anos, ainda é preciso ter cuidado ao visitar algumas cidades que foram amplamente contaminadas, diz o bispo emérito de Pelotas-RS, Dom Jayme Chemello, que recentemente esteve na Ucrânia a convite a ONG Green Cross Internacional, coordenada pelo ex-presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev. "Visitei Lokotkiv. Fomos de ônibus até onde foi possível, e depois tivemos de seguir a pé por uma estradinha, que devia ter uns quatro metros de largura. Caminhamos uns cinco quilômetros e não podíamos pisar fora de uma faixinha, porque naquele espaço a radiação era três vezes maior", relata.
Depois de voltar da Ucrânia, Dom Jayme Chemello recebeu a equipe da IHU On-Line em sua residência, em Pelotas, RS, onde contou novos fatos, que aos poucos são revelados na tentativa de explicar o aconteceu em 1986. Segundo ele, na época "mais ou menos quinhentas mil pessoas" foram convocadas pelo governo para combater a expansão da radiação para outras regiões. "Dessas, cem mil eram recrutas militares e quatrocentos mil eram civis". "Relata-se que os encarregados dos voos, aqueles que voavam cima de 800 metros para lançar os sacos de areia e chumbo para baixo, chegavam ao hospital satisfeitos, mas quando iam comer, não tinham apetite e logo depois morriam", informa.
De acordo com ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, a Ucrânia inaugurou recentemente um novo sarcófago para armazenar o lixo radiativo, pois o anterior foi corroído pela radiação. "Eles enterram o lixo radiativo, mas não se sabe até quando aquele lixo vai poder ficar enterrado. Ninguém sabe o que fazer". E recomenda: "O Brasil não deve investir em energia nuclear. Se existem alternativas energéticas, para que pensar em uma energia nuclear tão perigosa?"
Dom Jayme Chemello (foto abaixo) cursou Filosofia no Seminário Pontifício de Buenos Aires, e Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia, também em Buenos Aires. Foi ordenado Sacerdote em 1958 na Igreja Matriz de São Marcos. Em 1969, foi nomeado bispo-auxiliar de Pelotas pelo Papa Paulo VI. Ele também foi vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, em 1994, e presidente por dois mandatos, entre 1998 e 2002. De 2005 a 2011 foi presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, no Projeto de Evangelização da Amazônia, da CNBB. Em breve publicaremos uma entrevista sobre a trajetória de Dom Jayme na Igreja do Brasil.
Confira a entrevista
IHU On-Line - O senhor viajou recentemente para a Ucrânia, onde visitou cidades que foram atingidas pelo desastre de Chernobyl. Quem promoveu a viagem? Pode nos relatar como foi essa visita à Ucrânia? Foto de Natália Scholz Dom Jayme Chemello - Quem promoveu essa viagem foi a Green Cross, uma organização que se dedica ao meio ambiente e que analisa os impactos das usinas nucleares. O atual presidente da Green Cross Internacional, Alexander Likhotal, era conselheiro de Mikhail Gorbachev [1], quando este era presidente da União Soviética. Ele é um russo e esteve presente nessa comitiva.
           Nós visitamos o museu de Chernobyl, onde retrataram tudo o que aconteceu através de fotos de pessoas, fotos de como era a cidade antigamente e de como ela ficou após o desastre nuclear. Ele é enorme; possui vários andares e é muito bem construído.
            No dia 26 de abril de 2012, o presidente da Ucrânia anunciou a instalação do novo sarcófago, o qual foi construído para substituir o antigo. Ele custou 1 bilhão e 500 mil euros, e a previsão é de que dure 100 anos. A estimativa era de que o sarcófago anterior, construído após o desastre, durasse 30 anos, mas ele não aguentou nem 25. As medidas do novo sarcófago são de 108 metros de altura, 162 metros de comprimento, e 257 metros de largura. A estrutura de metal pesa 23 mil toneladas.
            Visitei algumas cidades próximas de Chernobyl e percebi que em Kiev [2], que fica a mais ou menos 180 quilômetros de Chernobyl, quase não existem plantações por conta da radiação. Também fui a Slavutych [3], onde participamos de uma comemoração em função dos 25 anos de jubileu de prata de todos que morreram em Chernobyl.
           IHU On-Line - Como foi essa cerimônia?
           Dom Jayme Chemello - Foi uma cerimônia muito interessante e aconteceu na praça de Slavutych. Havia aproximadamente 50 mil pessoas. A cidade em si tem esse número de habitantes; essas 50 mil pessoas vieram não só de Slavutych, mas também de outras cidades vizinhas.
           Jovens com lâmpadas formaram duas filas como se fosse um corredor. Caminhamos por entre elas e depositamos duas rosas em um altar. Havia um silêncio total, porque todos estavam doloridos por terem perdido o pai, a mãe, ou algum parente ou conhecido no acidente de Chernobyl. Rezei para que Deus entendesse a situação daquele povo.
            IHU On-Line - A Igreja Ortodoxa participa dessa celebração ou não?
            Dom Jayme - Padres passaram por lá; não houve uma cerimônia especial por parte dos ortodoxos, porque eles são muito ligados ao governo. As igrejas deles são bonitas, têm torres douradas, são pomposas, luxuosas. Uma coisa curiosa é que em lugares estratégicos há sempre uma pessoa sentada, que fica observando tudo que acontece para evitar que alguém roube ou quebre alguma coisa. Não pude ver a catedral católica que existe lá, mas visitei uma igreja ortodoxa. Os ortodoxos me disseram que perto da Polônia têm mais católicos.
            IHU On-Line - Que novidades em relação a Chernobyl são conhecidas hoje, 26 anos depois do acidente? Que relatos o senhor ouviu na sua viagem à Ucrânia?
            Dom Jayme Chemello - A explosão na usina nuclear de Chernobyl aconteceu em 25 de abril de 1986, na Ucrânia (mapa ao lado). No começo achavam que não era uma explosão, tanto que o presidente na época, Gorbachev, só foi informado do incêndio dois dias depois da explosão, às 5 horas da manhã. Eles tentaram combater o incêndio com água, mas isso piorou ainda mais a situação.
            A fumaça oriunda da explosão subiu mil metros e as partículas radiativas foram levadas para outros países pelo vento. Todas as pessoas que tiveram conhecimento do que foi o desastre de Chernobyl tinham medo de falar, tanto que levaram 20 anos para dizer tudo o que aconteceu e quais foram os impactos dessa explosão.
           Próximo da usina de Chernobyl estava a cidade de Pripyat [4], que na época tinha uns 43 mil habitantes. A primeira coisa que precisava ser feita era retirar essas pessoas de lá, mas os próprios técnicos que estavam na cidade não sabiam que a situação era tão grave. Como as partículas radiativas começaram a chegar na Suécia, os moradores de lá ficaram intrigados com a fumaça e começaram a questionar a sua origem. Aviões começaram a fiscalizar a região e foram os americanos que descobriram que se tratava de Chernobyl, pois fiscalizaram tudo via satélite. O governo Russo já sabia o que tinha ocorrido, mas estava ocultando os fatos, porque não tinha como dizer para o povo sobre o que ocorrera. Seria terrível.
          De toda forma, ninguém sabia que a situação era tão grave, porque, quando as partículas radiativas penetram no ser humano, ele não sente nada. Dez ou doze dias depois é que começam a aparecer os sintomas.
         IHU On-Line - Como essas partículas afetam os seres humanos?
          Dom Jayme Chemello - Elas decompõem o sangue e, em função disso, começam a surgir câncer, feridas, ossos quebrados etc. Os moradores de Pripyat pensavam que a radiação iria desaparecer, mas até hoje ela é uma cidade morta, uma cidade fantasma. Nos primeiros dias após a catástrofe, morreram cerca de 30 pessoas. Quando souberam da dimensão do problema, convocaram mais ou menos 500 mil pessoas para ajudar a conter a proliferação da radiação. Dessas, cem mil eram recrutas militares e quatrocentos mil eram civis. Essas pessoas largaram centenas de sacos de areia e uma quantidade enorme de chumbo para evitar que a radiação se espalhasse para outros locais, mas os destroços de Chernobyl continuavam lançando partículas radiativas para cima.
            Foi aí que tiveram a ideia de construir um sarcófago, um túmulo especial feito de chumbo e aço, para abafar as partículas. A previsão era de que o sarcófago durasse trinta anos, mas após 20 anos ele já estava arrebentado por conta da radiação. Vinte anos depois divulgaram que mais de 250 mil pessoas morreram na tentativa de conter a expansão da radiação.
            Relata-se que que os encarregados dos voos, aqueles que voavam cima de 800 metros para lançar os sacos de areia e chumbo para baixo, chegavam ao hospital satisfeitos, mas quando iam comer, não tinham apetite e logo depois morriam.
           Depois desse desastre, aconteceram coisas positivas. Por exemplo, o próprio Gorbachev conseguiu que cada República, que pertencia à antiga União Soviética, fizesse uma obra na Ucrânia. De fato, visitei uma cidade chamada Slavutych, que tem aproximadamente 50 mil habitantes, e hoje as pessoas vivem bem. Também visitei Pakul, uma cidadezinha que foi contaminada pela radiação e que hoje está completamente destruída.
            IHU On-Line - A radiação se espalhou para quantas cidades e países?
            Dom Jayme Chemello - A radiação se espalhou para a Suécia e para a Europa toda. Esse mapa mostra o nível de radiação, quanto mais vermelho, maior o nível de radiação (foto ao lado). Na Ucrânia, as cidades Slavutych e Lokotkiv foram bastante atingidas. Visitei Lokotkiv. Fomos de ônibus até onde foi possível, e depois tivemos de seguir a pé por uma estradinha, que devia ter uns quatro metros de largura. Caminhamos uns cinco quilômetros e não podíamos pisar fora de uma faixinha, porque naquele espaço a radiação era três vezes maior.
             Encontramos três senhoras que nos explicaram o que foi o desastre de Chernobyl, e foi aí que eu comecei a descobrir o que era essa tal de radiação. Também encontrei um padre ortodoxo, até muito disposto, muito enfeitado - porque eles se enfeitam bastante. Tentei conversar com ele do jeito que dava, porque ele não sabia falar outro idioma. Também visitei um cemitério. É curioso que, sob cada túmulo, havia um prato de comida arrumado para o morto.
            IHU On-Line - E por que será?
            Dom Jayme Chemello - Não sei, talvez porque eles pensam que a vida é eterna. Fazem muita comida para mortos.
            IHU On-Line - Muitas pessoas ainda moram em Lokotkiv?
            Dom Jayme Chemello - Na região que visitei, só encontrei aquelas três senhoras. Os maridos e os filhos delas morreram. As pessoas visitam essa região, mas costumam ficar por pouco tempo.
            IHU On-Line - E onde é Chernobyl? O que existe lá hoje?
             Dom Jayme Chemello - Chernobyl fica no norte da Ucrânia (foto ao lado). Não podemos visitá-la. Lá só tem a cratera. Os reatores que explodiram acabaram com tudo. Por isso Gorbachev não aceita a construção de novas usinas nucleares.
             IHU On-Line - Qual a comparação que eles fazem com Fukushima?
             Dom Jayme Chemello - Eles dizem que a experiência de Chernobyl é única, porque eles não sabiam nada sobre a questão radiativa. Depois de anos de investigação foram descobrindo que a radiação entrava pelo corpo e que causava muitos problemas à saúde, apesar de as pessoas não sentirem nada.
            IHU On-Line - Como acontece a discussão sobre a energia nuclear na Ucrânia atualmente? Eles ainda dependem de energia nuclear. Pretendem continuar investindo nesse modelo?
            Dom Jayme Chemello - Eles são contra a energia nuclear, e utilizam bastante petróleo. Da mesma forma, o Brasil não deve investir em energia nuclear. Se existem alternativas energéticas, para que pensar em uma energia nuclear tão perigosa?
             IHU On-Line - Representantes de quais países participaram dessa visita a Chernobyl?
             Dom Jayme Chemello - Representantes de muitos países. Fui o único brasileiro a participar. Lembro-me de pessoas da Itália, do Japão, da Rússia, além de alemães e norte-americanos. No Brasil, eles convidaram jornalistas, deputados e queriam um bispo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Então o secretário e o presidente da CNBB disseram que teriam de escolher um bispo emérito, e me escolheram.
             IHU On-Line - Quanto a Ucrânia e os países atingidos já gastaram com tratamentos ambientais e de saúde?
            Dom Jayme Chemello - Soube que somente a construção do novo sarcófago custou 1 bilhão e meio de euros. Devem ter gasto uma fortuna durante esses 25 anos.
            IHU On-Line - Que destino eles deram para o lixo radiativo, ou ainda não sabem o que fazer com ele?
            Dom Jayme Chemello - Eles enterram o lixo radiativo, mas não se sabe até quando aquele lixo vai poder ficar enterrado. Ninguém sabe o que fazer. Como o custo do sarcófago que armazena o lixo é muito caro, a Ucrânia espera que outros países também colaborem no sentido de tentar encontrar alguma alternativa.
             IHU On-Line - Percebe-se o comunismo na Ucrânia?
            Dom Jayme Chemello - O Estado manda em tudo, embora seja democrático. Já tem uma democracia. Porém, até onde é ele democrático é algo difícil de se saber. Posso dizer que nos trataram muito bem.
            IHU On-Line - Qual a situação econômica e social da Ucrânia?
            Dom Jayme Chemello - É mais ou menos como no Brasil. Em algumas cidades não existe uma multidão de habitantes como aqui. Eles têm umas casinhas muito pobres. De modo geral, eles estão relativamente melhor do que nós.
           IHU On-Line - As pessoas ainda têm problemas de saúde por conta da radiação?
           Dom Jayme Chemello - Sim. Visitei algumas creches em Slavutych, e a médica pediatra disse que atualmente não têm mais casos tão graves. Mas antes as consequências da radiação eram terríveis. Os impactos da radiação começaram a diminuir nos últimos anos.
          Seria oportuno que o Papa Bento XVI pudesse enviar um representante para a Ucrânia, para participar da celebração em memória dos mortos de Chernobyl.

Fonte: www.ihuonline.unisinos.br


Postado em 11/06/12

 

Cardeal Scherer é enviado do Papa para Rio+20









O arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom Odilo Pedro Scherer, será o enviado especial do papa Bento 16 e chefe da Delegação da Santa Sé na Conferencia das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será realizada entre os dias 13 e 22 de junho (o arcebispo foi nomeado para os dias 20 a 22, quando acontece o Segmento de Alto Nível da Conferência, com a presença de diversos chefes de Estado), na cidade do Rio de Janeiro. Dom Odilo foi comunicado da nomeação pelo núncio apostólico no Brasil, dom Giovanni D'Aniello, por carta datada de 29 de maio. A carta do Núncio informa, ainda, que "também farão parte da Delegação da Santa Sé o Ex.mo Mons. Francis Chullikatt, Observador Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, o Rev.do Philip J.Bené, o Ver.do Justin Wylie e o Advogado Lucas Swanepoel".
            A Rio+20 é assim conhecida porque marca os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e deverá contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009.
       O objetivo da Conferência é a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes.
        A Conferência terá dois temas principais: "A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza"; e "A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável".
         A Rio+20 será composta por três momentos. Nos primeiros dias, de 13 a 15 de junho, está prevista a III Reunião do Comitê Preparatório, no qual se reunirão representantes governamentais para negociações dos documentos a serem adotados na Conferência. Em seguida, entre 16 e 19 de junho, serão programados os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável. De 20 a 22 de junho, ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Conferência, para o qual é esperada a presença de diversos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros das Nações Unidas.

Data e horário: domingo, 10 Junho 2012- 16:16
Créditos: Rafael Alberto / Secretário de Comunicação Arquidiocese de São Paulo

Postado em 25/05/12
Presidenta Dilma visita e homenageia Cardeal Arns        A presidente Dilma Rousseff visitou, no final da tarde de hoje (18), o cardeal Paulo Evaristo Arns. Foi um encontro rápido, reservado e, sobretudo, simbólico. Dois dias após ter instalado a Comissão da Verdade, o objetivo da chefe de Estado era homenagear o arcebispo emérito de São Paulo por seu trabalho à frente da histórica pesquisa Brasil Nunca Mais.
        Realizada entre 1979 e 1985, a pesquisa reuniu e organizou 707 processos do Tribunal Superior Militar. O resultado, um extenso documento sobre torturas e outras violações de direitos humanos ocorridas no período do regime militar, é apontado por especialistas como precursor da Comissão da Verdade. O cardeal Arns pertence à Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco de Assis. Tem 90 anos e, com saúde debilitada, vive praticamente recluso em uma residência mantida pelas irmãs franciscanas na periferia de Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo.
         O encontro estava marcado para as 16h15, mas Dilma chegou com quase uma hora de atraso. Os dois conversaram no andar térreo da casa das irmãs, acompanhados pelo secretário geral da Presidência, o ex-seminarista Gilberto Carvalho. Passados pouco mais de 40 minutos, Dilma deixou a residência.
Na saída, desceu o vidro do automóvel e, sorridente, acenou para um pequeno grupo de moradores do Parque Monte Alegre que a aguardava na rua. D. Paulo se manteve no interior da casa. Segundo uma das irmãs que o assistem, ficou cansado e se retirou logo para seus aposentos. O Planalto não divulgou detalhes da conversa. Em comentário não oficial, um assessor da Presidência qualificou o encontro como “histórico”.

Guerreiro incansável na luta pela justiça.

          Dedicação do cardeal dos trabalhadores transcendeu a Igreja, salvou vidas e mexeu com a história do país. Dom Paulo simboliza o valor da resistência e da esperança
Por: João Peres e Virginia Toledo
Dom Paulo Arns abrindo caminho para o corpo do operário Santo Dias da Silva, morto pela polícia em 1979, e que a ditadura queria esconder (foto: Eduardo Simões) De esperança em esperança, Dom Paulo Evaristo Arns completa 90 anos com a mesma certeza que tinha aos 20: a solidariedade e a busca da justiça e da paz como razão de viver. Os arredores da morada de dom Paulo emanam serenidade. A mesma com que enfrentou tiranos de plantão no poder e lutou pelas causas dos desfavorecidos.
          Desde 2007, o franciscano vive numa pequena congregação na região metropolitana de São Paulo. Irmã Devanir de Jesus, amiga de convivência diária, conta que o cardeal optou por descansar com a sensação de dever cumprido. “É uma pessoa iluminada. De fácil cuidado e muito gentil. Eu cresço a cada momento que convivo com ele.” O aposentado cardeal não concede mais entrevistas, não vai a debates nem eventos – o que inclui celebrações de seus 90 anos, completados em 14 de setembro. A imagem de São Francisco de Assis à entrada dá as boas-vindas e parece explicar que a opção de seu mais famoso e fiel devoto é merecida e necessária. “Dom Paulo, como frei franciscano, teve espírito de despojamento, de simplicidade de vida e de uma inteligência privilegiada”, conta o amigo dom Pedro Stringhini, bispo de Franca.
         A infância em Forquilhinha (SC) forjou o homem que mais tarde se transformaria em pedra no sapato da ditadura. A fé da mãe, Helena, e o espírito conciliador do pai, Gabriel, são vistos pelo cardeal como pilares de sua formação. Quando estava para ingressar no seminário, o menino recebeu do pai o pedido: “Papai é colono, e você, mesmo depois de estudar muito, sempre será filho de colono e de seu povo”. Dom Paulo levou isso na cabeça nos 12 anos de estudos, após a ordenação, em 1945, e na pós-graduação na Universidade de Sorbonne, na França. Na Europa pós-guerra, a desigualdade social se alastrava. Dom Paulo deparou com a realidade dos que lutaram e com as cicatrizes da intolerância nazista. As marcas do conflito arraigaram ainda mais em Paulo Evaristo a conduta humanista que o guiaria pela vida.
         No retorno ao Brasil, antes da chegada a São Paulo, trabalhou em comunidades carentes de Petrópolis (RJ) durante dez anos. Em julho de 1966, se apresentava à metrópole acinzentada, que crescia e empurrava para as bordas a massa de migrantes. A Igreja Católica, com o Concílio Vaticano II, reinseria a realidade das mazelas do mundo na vida clerical. Emergia a Teologia da Libertação, que preconiza uma opção preferencial pelos pobres e a consciência das massas – ensinar a pescar – como meio de reagir à opressão. Ao mesmo tempo, a força das armas produzia as ditaduras no Cone Sul.
         Quando assumiu a Arquidiocese de São Paulo, em 1970, o franciscano de cara deu recados. Vendeu o Palácio Pio XII, residência oficial do arcebispo, para financiar terrenos e construir casas na periferia. Fortaleceu as Comunidades Eclesiais de Base, que até hoje disseminam pelos bairros as discussões sobre política, cidadania e, claro, religião. E incentivou as pastorais. “O papa Paulo VI disse a dom Paulo que tivesse uma bela equipe de bispos auxiliares que deveriam estar perto do povo”, conta um desses bispos, dom Angélico Sândalo Bernardino, chamado em 1974.
         Eram quatro bispos auxiliares, um para cada região da cidade. Dom Angélico recebeu a incumbência de cuidar da Pastoral Operária, criada quatro anos antes. E se tornaria mais tarde o “bispo dos operários”.
         A amizade com Paulo VI renderia ao Brasil algo mais que recomendações episcopais: toda vez que algum religioso estivesse em risco, dom Paulo ia ao Vaticano. “Todo mundo municiava dom Paulo com informações sobre o que estava acontecendo porque sabia que ele era ouvido aqui e fora”, diz o amigo Paulo Cesar Pedrini, da Pastoral Operária.
No fim da década de 1970, bispos ligados à conservadora corrente Tradição, Família e Propriedade (TFP) pediram ao governo que expulsasse do Brasil dom Pedro Casaldáliga, bispo espanhol da Prelazia de São Félix do Araguaia, “acusado” de ser comunista. O cardeal viajou a Roma, e Paulo VI mandou o recado: “Mexer com Pedro é mexer com o papa”, versão da história confirmada pelo próprio Casaldáliga.
Abra-se o caminho




Discurso cortado
         Na noite de 3 de julho de 1980, Waldemar Rossi havia sido encarregado por dom Paulo de ler ao papa João Paulo II uma carta com denúncias de trabalhadores sobre violações a seus direitos. O Exército, responsável pelas credenciais, levantou a ficha do fundador da Pastoral Operária e decretou que “contumaz comunista” não participaria da celebração. Dom Paulo o pôs para dentro e, como chovia e o papa estava atrasado, pediu a Rossi que encurtasse o discurso – lesse apenas o primeiro e o último parágrafo. Ainda assim, foi adiante a denúncia da morte de Santo Dias e de Raimundo Ferreira Lima, o Gringo – trabalhador rural também assassinado pela repressão, dois meses antes, no sul do Pará. Quando 130 mil pessoas bradavam “liberdade!”, o papa precisou da ajuda do cardeal para entender o que se passava. “Foi o momento mais forte do encontro”, lembra Rossi.
         Waldemar Rossi lembra quando foi chamado por dom Paulo. Meses após a criação da Pastoral Operária, o franciscano queria saber do metalúrgico: os integrantes eram a favor da luta armada? “Nós temos o direito de nos organizar para defender nossos direitos?”, perguntou-lhe Rossi. “É um dever”, ouviu. “Estamos fazendo. Na hora em que a gente estava ganhando força, vem a ditadura e mata...”, prosseguiu. E o cardeal encerra a conversa: “Aí, vocês têm o direito da legítima defesa”. Rossi passaria a ser um amigo fiel do arcebispo.
         Três anos mais tarde, foi preso. Sua mulher procurou dom Paulo, o crime foi denunciado nas paróquias de São Paulo e no exterior. “Os militares queriam parecer bonzinhos, então ficavam furiosos quando alguma coisa transpirava para o exterior”, lembra Margarida Genevois. “Essa arma a gente utilizou bastante.” Rossi, um dos fundadores da Pastoral Operária, ficou na sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo. Dom Paulo promovia caminhadas ao redor do Dops, até que, no 25º dia da prisão, entrou no prédio, não tomou conhecimento dos protestos em contrário e foi à sala do delegado. “Vocês torturaram esse homem. Ele não consegue andar direito”, acusou, logo que foi autorizado a ver o prisioneiro, que tinha também o “defeito” de liderar a oposição ao comando do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, há anos submisso a militares e patrões.
         Não era a primeira vez que ele batia de frente com o inimigo. Não seria a última. “Dom Paulo foi abrindo caminho”, conta dom Angélico, ao lembrar da chegada ao Instituto Médico Legal (IML) em 30 de outubro de 1979. Lá estava o corpo do operário Santo Dias da Silva – cujo desaparecimento só não aconteceu porque sua mulher, Ana Dias, entrou à força no carro dos policiais que o transportaram. Depois de discutir com a PM para que libertasse os militantes presos por organizar uma greve não apoiada pelo sindicato, o metalúrgico foi baleado nas costas diante de uma fábrica na zona sul paulistana. “Dom Paulo saiu de casa com todos os trajes episcopais e chegou dizendo: ‘Abram a porta. É o arcebispo de São Paulo’. Foi aonde estava o corpo e pôs o dedo na bala, indicando o ferimento feito por um policial”, relembra o padre Júlio Lancelotti.
Da Rua da Consolação até a Catedral da Sé, milhares de pessoas se reuniram em protesto. “Foi um grito de dor, de denúncia”, lembra Ana, que anos mais tarde soube que o cardeal encomendara um caixão mais resistente para que os companheiros pudessem cumprir o desejo de transportar o corpo de Santo pelas ruas de São Paulo. Como sua família não aceitava sua opção pela militância, Ana contou muito com o auxílio do amigo. “Dom Paulo foi meu pai. Pai de verdade, e não um pai ausente.”


O bico do condor
         A Cúria Metropolitana, localizada no Bairro Higienópolis, já era uma referência no enfrentamento à repressão. O arcebispo articulara a criação da Comissão Justiça e Paz, que denunciava as prisões ilegais e as torturas, dava suporte aos familiares e pressionava os militares. “Comecei atendendo um dia por semana. Depois, dois, três. No fim, atendia todos os dias, de manhã e de tarde”, conta Margarida Genevois, que integrou a comissão durante 25 anos e chegou a presidi-la. A fama do arcabouço protetor criado na arquidiocese cresceu e já atraía perseguidos da Argentina, do Chile, Paraguai e Uruguai. Os militares reclamavam da intromissão da Igreja brasileira, e dom Paulo rebatia: “A solidariedade não tem fronteiras”.
         Santiago, Chile, 1979. O Clamor, grupo de defesa dos direitos humanos criado em São Paulo com olhos na América Latina, atingia um de seus pontos altos. Sob a proteção do cardeal, a jornalista inglesa Jan Rocha, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh¬ e o pastor presbiteriano Jaime Wright arquitetaram a primeira missão de resgate de crianças sequestradas pela ditadura argentina (1976-1983). Anatole e Vicky, cujos pais, uruguaios, foram mortos em Buenos Aires, viviam na capital chilena quando foram localizados pelo grupo. Até hoje, as Avós da Praça de Maio recuperaram o destino de mais de cem netos raptados, história que teve início sob influência e guarida de dom Paulo e do Conselho Mundial de Igrejas.
         A aproximação entre o cardeal e o CMI, que reúne igrejas protestantes, foi realizada por Wright. O pastor despertou para a luta contra a ditadura após a morte do irmão, Paulo, em 1973, e logo se transformou em grande amigo de Arns. “Sempre brincavam que um parecia um presbiteriano disfarçado de católico e o outro parecia um católico disfarçado de presbiteriano”, lembra Anita Wright, acostumada a ver o pai viajar intensamente e hospedar em casa refugiados que batiam à porta do Clamor. O CMI passou a custear as operações de salvação de pessoas e, mais tarde, seria fundamental para o projeto Brasil Nunca Mais.
A ditadura caminhava para o final, e o sinal de alerta acendeu. “Consegui que o Conselho Mundial de Igrejas financiasse o projeto, desde que eu obtivesse o aval de dom Paulo”, conta a advogada Eni Moreira, idealizadora do Brasil Nunca Mais, para que episódios de destruição de arquivos, como vistos em outros períodos autoritários, não se repetissem. Entre 1979 e 1985, um grupo restrito de advogados valeu-se do direito de retirar processos arquivados no Superior Tribunal Militar, em Brasília, e montou um quadro sistemático da repressão promovida nos 15 anos anteriores. “O ‘guarda-chuva’ de dom Paulo nos dava certa tranquilidade”, admite Eni. Seis anos depois, vinha à tona o livro Brasil Nunca Mais, com relatos dos métodos¬ de tortura, as acusações ilegais e os crimes promovidos pelo regime – informação que, saída de seus arquivos, nunca pôde ser contestada pelos repressores.
       Dom Paulo jamais acreditou na versão de que o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, houvesse cometido suicídio na cela em que estava detido, no DOI-Codi, outro aparelho da ditadura. A missa de sétimo dia da morte de Vlado, em 1975, ato ecumênico que atraiu milhares de pessoas até a Catedral da Sé, transformou-se em um momento simbólico, possivelmente o início do fim dos anos de chumbo. “Lembro do meu pai relatando a agonia de tentar chegar na catedral, porque havia bloqueios policiais nas vias de acesso”, conta Anita sobre a saga de Wright, representante presbiteriano na celebração.

D
ebaixo do viaduto

        Padre Júlio, da Pastoral do Povo da Rua, relembra um episódio em que um grupo de moradores de rua estava na iminência de passar mais uma noite fria do inverno paulistano debaixo de um viaduto. A Prefeitura de São Paulo, então administrada por Paulo Maluf, havia fechado um abrigo e, naquela noite, dom Paulo disse que dormiria no local enquanto não fosse reaberto. “Eu o convidei e ele foi até o Viaduto do Glicério, no centro de São Paulo, onde os moradores de rua estavam. E aí foi um esparramo. Imagine só, o arcebispo embaixo de um viaduto.”
         Depois de 28 anos à frente da Arquidiocese de São Paulo, dom Paulo renunciou por questão de idade em 1998, aos 77. Recebeu da Igreja o título de arcebispo emérito e, dos operários, o de cardeal dos trabalhadores. Após alguns anos vivendo no Jaçanã, zona norte, retirou-se para a congregação em Taboão da Serra. Hoje, ao acordar, lê jornais e em seguida faz uma celebração diária aos moradores da comunidade religiosa onde vive. Com apoio de uma bengala, faz uma leve caminhada pelo jardim e segue para o almoço. Nos últimos anos, optou por não assistir à televisão, mas dizem as boas línguas que a carne é fraca para uma única paixão: dar uma espiadela de nada na TV quando joga o Corinthians. Obviamente, não assume e atribui o “vacilo” às freiras – corintianas por obra e graça do próprio.
        No começo deste ano, quando esteve internado, dom Paulo convocou ao hospital dom Angélico: queria que o amigo rezasse a missa. Ao final da celebração, na cama da Unidade de Terapia Intensiva, aproveitou a hora do abraço para sussurrar: “Confiança. Vamos avante. De esperança em esperança. Na esperança sempre”. Para o cardeal dos trabalhadores, pode-se desanimar, sofrer, esmorecer, mas desistir jamais. “A esperança não é o ópio do povo, mas o motor que modifica o mundo.” 

Fonte: Pascom Região Lapa/ Site do Governo Federal

Postado em 25/05/12

Brasil usa 19% dos agrotóxicos produzidos no mundo
 
        O diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), José Agenor Álvares da Silva, afirmou que o País é responsável por 1/5 do consumo mundial de agrotóxicos. O Brasil usa 19% de todos os defensivos agrícolas produzidos no mundo; os Estados Unidos, 17%; e o restante dos países, 64%. Ele citou pesquisa segundo a qual o uso desses produtos cresceu 93% entre 2000 e 2010 em todo o mundo, mas no Brasil o percentual foi muito superior (190%).
 
       Segundo o diretor da Anvisa, existem atualmente no País 130 empresas produtoras de defensivos agrícolas, que fabricam 2.400 tipos diferentes de produtos. Em 2010, foram vendidas 936 mil toneladas de agrotóxicos, negócio que movimenta US$ 7,3 bilhões. Governo registra 8 mil casos de intoxicação por agrotóxicos em 2011.
 
        O diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Guilherme Franco Netto, afirmou que, em 2011, foram registrados mais de 8 mil casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil. Segundo ele, essas notificações não expressam o número real, que é maior.
 
      Participante de audiência da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Franco Netto destacou que, de 2005 a 2010, houve aumento do consumo de agrotóxicos no País, assim como das notificações de intoxicação. De acordo com ele, dois grupos populacionais estão mais expostos à contaminação por agrotóxicos: adultos jovens (20 a 49 anos) e crianças, intoxicadas por exposição acidental ao produto.
 
O diretor citou ainda estudo feito pela Universidade Federal da Bahia que aponta aumento, na última década, da mortalidade provocada por exposição aos agrotóxicos. Entre os trabalhadores agrícolas, os registros revelam que o número de mulheres afetadas é maior do que o de homens.

Matéria da Agência Câmara de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 10/05/2012
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 Postado em 14/05/12 

Semana da Luta Antimanicomial

No ano em que se comemora os 50 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil, o tema da Semana da Luta Antimanicomial remete às motivações dos primeiros anos de organização do Movimento Antimanicomial e traz uma oportunidade de reflexão. Entendemos e lutamos para que o local de acolhimento e tratamento continue sendo a rede aberta do SUS. É urgente a promoção de modelos centrados no desenvolvimento de projetos de cuidado; no território do sujeito e nas redes sociais; a revisão crítica do papel hegemônico e centralizador dos hospitais psiquiátricos; o respeito aos direitos humanos e civis dos loucos e dos usuários de drogas, enfim, dos mais vulneráveis.  Sugestão para reflexão sobe esta compreensão, assista a filme Procura-se Janaína. Leia mais http://w ww.crpsp.org.br/lutaantimanicomial


Postado em 08/05/12
 
UNICEF publica diagnóstico que revela a situação dos adolescentes no mundo

Nos últimos 20 anos, adolescentes foram beneficiados pelo progresso na educação e na saúde pública. No entanto, as necessidades de muitos adolescentes são negligenciadas, com mais de um milhão perdendo a vida a cada ano e dezenas de milhões sem acesso à educação, afirma relatório do Fundo das Nações Unidas para a Criança (UNICEF), lançado na última terça-feira (24).
O documento identifica, por exemplo, a África ao sul do Saara como o lugar mais difícil para um adolescente viver. A população adolescente dessa região ainda está crescendo, estimando-se que terá o maior número de adolescentes do mundo até 2050. Mas apenas metade das crianças na África ao sul do Saara completa a escola primária e o desemprego entre os jovens é alto.
A publicação Progresso para as Crianças: Um relatório sobre adolescentes (Progress for Children: A report card on adolescents) destaca outras consequências alarmantes sobre o fato de os benefícios do progresso não estarem sendo divididos igualmente entre os 1,2 bilhão de adolescentes – meninos e meninas de 10 a 19 anos* – que vivem hoje em todo o mundo.
"Pobreza, status social, gênero ou deficiência impedem que milhões de adolescentes realizem os seus direitos a cuidados de saúde, educação de qualidade, proteção e participação", disse a Diretora Executiva Adjunta do UNICEF Geeta Rao Gupta. "Este relatório abrangente fortalece a nossa compreensão dos problemas enfrentados pelos adolescentes mais pobres e desfavorecidos. É hora de atender às suas necessidades; eles não devem ser deixados para trás".
Maiores investimentos
O relatório aponta para uma significativa necessidade de reforçar o investimento em todos os aspectos da vida e do bem-estar dos adolescentes – mesmo em sua luta pela sobrevivência. A cada ano 1,4 milhão de adolescentes morrem por causa de acidentes de trânsito, complicações no parto, suicídio, aids, violência e outras causas. Em alguns países latino-americanos, mais meninos adolescentes morrem em decorrência de homicídio do que de acidentes de trânsito ou suicídio. Na África, complicações na gravidez e no parto são a principal causa de morte de meninas com idade entre 15 a 19 anos.
Crianças entrando na adolescência sofrem cada vez mais risco de violência - uma mudança em relação à primeira infância, quando doenças e desnutrição são as principais ameaças. As adolescentes são particularmente vulneráveis à violência no casamento. Em uma pesquisa na República Democrática do Congo, 70% das meninas entre 15 e 19 que tinham sido casadas disseram que sofreram violência nas mãos de um atual ou antigo parceiro ou cônjuge.
Adolescentes, especialmente meninas, são muitas vezes obrigados a abandonar a infância e assumir papéis de adultos antes de estar prontos, limitando as suas oportunidades de aprender e crescer, e colocando sua saúde e segurança em risco. O relatório diz que, nos países em desenvolvimento – excluindo a China –, mais de um terço das mulheres entre 20 e 24 anos já havia se casado ou vivia em união aos 18 anos, com cerca de um terço destas tendo casado até os 15 anos de idade.
Taxas de natalidade entre adolescentes são relativamente altas na América Latina, Caribe e África ao sul do Saara, afirma o relatório. No Níger, metade das mulheres jovens entre 20 e 24 deu à luz antes dos 18 anos.

Educação
Globalmente, 90% das crianças em idade escolar estão matriculadas em escolas primárias e sistemas de ensino secundário têm-se expandido em muitos países. No entanto, as matrículas na escola secundária continuam a ser baixas no mundo em desenvolvimento, especialmente na África e na Ásia. Muitos alunos em idade escolar secundária estão em escolas primárias. A África ao sul do Saara tem os piores indicadores de ensino secundário do mundo.
Cerca de 71 milhões de meninos e meninas que deveriam estar nos anos iniciais do ensino secundário em todo o mundo não estão na escola e 127 milhões de jovens entre 15 e 24 anos são analfabetos – a grande maioria no Sul da Ásia e na África ao sul do Saara.
O relatório afirma que esforços significativos na defesa de direitos, programas e políticas são necessários para concretizar os direitos de todos os adolescentes. A adolescência é uma fase crítica da vida em que o investimento correto pode quebrar o ciclo da pobreza e resultar em benefícios sociais, econômicos e políticos para adolescentes, comunidades e nações.
Mas o relatório também aponta que os adolescentes devem ser reconhecidos como verdadeiros agentes de mudança em suas comunidades. Programas e políticas, enquanto protegem os adolescentes como pessoas em desenvolvimento, devem reconhecer a sua capacidade de inovação, criatividade e energia para resolver os seus próprios problemas.


O relatório está disponível somente em inglês: Progress for Children: A report card on adolescents.
*Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), do Brasil, adolescentes são todos os indivíduos de 12 a 17 anos. No entanto, a Organização Mundial da Saúde e a Organização das Nações Unidas utilizam o recorte de 10 a 19 anos de idade para definir adolescente. Fonte: UNICEF – Brasil







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