Deveríamos inaugurar hoje outras 292 praças além da Praça
Memorial 17 de Julho, que homenageia os 199 mortos vítimas do voo TAM JJ
3054, que explodiu há exatamente cinco anos em frente a pista do aeroporto de
Congonhas.
Se cada grupo de 199 mortos no trânsito tivesse uma
homenagem semelhante não haveria espaço nas cidades para a construção de tantos
monumentos.
O acidente com o avião da TAM comoveu a cidade, o País,
foi notícia em todo o mundo e deu sequência a manifestações de toda ordem,
algumas delas pra lá de oportunistas, como a do apresentador João Dória
Júnior que, junto com o presidente da agência África Sérgio Gordilho, de
representantes da Fiesp e de LuizFlávio BorgesD’Urso, presidente da OAB-SP
(hoje candidato a vice-prefeito) criou o movimento vulgo “Cansei”,
classificado pelo presidente da OAB-RJ como “golpismo da elite paulista”. Eles
usaram o acidente como pano de fundo para criticar o governo e o “caos
aéreo” brasileiro.
O acidente forneceu as manchetes de grandes jornais
durante semanas, todos os aspectos do episódio foram destrinchados, culpados
foram apontados, as discussões se acaloraram.
Mas as mortes dos outros 58.134 brasileiros no ano
passado, em consequência de acidentes de trânsito, não chocaram a opinião
pública. Não mereceram manchetes de
jornais, nem homenagens das cidades, nem fomentaram oportunismos políticos.
O médico Dirceu Rodrigues Alves, da Associação Brasileira
de Medicina do Tráfego, lembra que também os mortos no trânsito são
homenageados com monumentos. Mais simplórios, mas não menos significativos: são
as cruzes colocadas na beira das estradas de todo o País. O problema – ele acha
– é que as mortes no trânsito são isoladas e dispersas, por isso chocam menos
e não são notícia.
“A morte no trânsito é rotina. Os acidentes ocorrem a
toda hora e em todos os lugares. Já um desastre de avião repercute porque
vitima muita gente de uma só vez e no mesmo lugar”, concluiu.
O Dr. Dirceu
não acha que por trás da diferença da repercussão entre um acidente de avião
e um de carro esteja a questão social. “Não acredito, pois os carrões mais
caros, mais potentes, são os mais predispostos a provocarem acidentes”.
Discordo dele, porque a maioria das mortes no trânsito é
de gente pobre. E quando um rico é envolvido em acidente, vira notícia.
Dados do DPVAT, responsável pelo pagamento do seguro
obrigatório, revelam que quem morre mais no trânsito são motociclistas e
pedestres.
Embora representem apenas 27% do total dos veículos em
circulação no Brasil, as motos foram responsáveis por 56% do valor total das
indenizações pagas em 2011 e mais de 65% da quantidade de vítimas
indenizadas. Foram 21.572 indenizações por morte em acidentes envolvendo esse
tipo de veículo.
De hoje em diante, quem passarem frente a Praça 17 de
Julho, na avenida Washington Luiz, vai lembrar dos 199 mortos no acidente do
vôo JJ 3054. Uma justa homenagem. Lembremos também que a cada dois dias
a mesma quantidade de pessoas morre em acidentes nas ruas e estradas brasileiras.
texto de Joel Leite,
18/07/2012
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