O carnaval comparece cedo neste ano. Ele
depende da data da páscoa. Como desta vez ela acontece ainda em março, é
preciso ir recuando o calendário, para que entre o carnaval e a páscoa caiba o
tempo da quaresma.
Assim se comprova, de novo, que o carnaval
nasceu como um evento secundário, colocado em referência a outro, mais
importante. No caso, o carnaval se desenhou no contexto da expectativa da
quaresma, que se constitui num tempo prolongado, bem programado, com metas bem
estabelecidas, e com uma cadência bem orquestrada, de apelos positivos para a
vivência de valores evangélicos.
Era para começar bem a quaresma, que o
carnaval servia de marco divisório, apontando para a quaresma, com seu começo
na quarta-feira de cinzas.
Mas, o que continua tendo um valor
secundário, assumiu uma importância muito grande. A ponto de se tornar, para
muita gente, o evento maior do ano.
Assim, o que era acidental, passou a
central. O que era simples aperitivo, tornou-se o prato principal. E com
frequência acontece, que se exagera no aperitivo, e se perde o banquete!
Como evento importante, é preciso
reconhecer que ele foi agregando valores, e ao mesmo tempo suscitando riscos.
É inegável o valor cultural e
simbólico que o carnaval assume, nas suas diversas manifestações, sobretudo em
algumas regiões diferenciadas do Brasil. Mérito especialmente das escolas de
samba, mas também de uma política equilibrada de promoção do carnaval,
especialmente em alguns Estados com mais tradição.
Mas é inegável que muitas práticas
carnavalescas descambam para a irresponsabilidade moral, expondo as pessoas a
graves riscos, não só de envolvimento em atitudes de devassidão, mas em frequentes
perigos de vida, como consequência dos exageros, que se procura justificar
invocando para o carnaval uma permissividade ilusória, que abre caminho para atitudes
equivocadas, com sérias consequências de toda ordem.
Se a este contexto somamos os abusos
na bebida, a irresponsabilidade no trânsito, o consumo de drogas, se completa o
quadro de ambiguidades e de excessos, que expõem as pessoas a sérios riscos, de
que elas na hora não se dão conta, tornando assim ainda mais perigosos os ambientes
resultantes destas ambiguidades do carnaval.
Quem mais está exposto a estes exageros
é a juventude. Por sua sede de experiências fortes e de liberdade total,
facilmente os jovens se tornam vítimas dos seus próprios exageros.
Neste ano, passado o carnaval, a
juventude estará no centro de nossas atenções, pela Campanha da Fraternidade.
Foi muito oportuna esta opção da CNBB, de fazer da juventude o tema central
deste ano. E de novo, o confronto do carnaval com a quaresma se torna símbolo
da situação da juventude. Para o
carnaval os jovens vão, sem precisar de convite. Para refletir sobre suas
vidas, no contexto da Campanha da Fraternidade, temos que encontrar maneiras de
nos aproximar dos jovens, e convidá-los a participar.
Neste ano, o carnaval acontece sob o
impacto da tragédia de Santa Maria, e com a disposição do policiamento de
coibir rigorosamente os motoristas de dirigirem alcoolizados.
Que estes dois fatores sirvam de alerta a
todos. Para que, passado o carnaval, possamos viver com intensidade o tempo da quaresma.
Que ela seja bem vinda!
D. Demétrio Valentini 02/2013
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