terça-feira, 24 de junho de 2008

Artigo


CAIO AUGUSTO DE ANDRADE,
31 Padre Hortolândia

Estamos em um ano político. Em outubro, vamos escolher prefeito e os vereadores de nossa cidade. E há muita dúvida quanto à participação dos cristãos e das igrejas nesse processo de escolha. Uns dizem que devem votar nos candidatos de sua igreja. Outros falam que ninguém devem se envolver, porque é coisa do mundo. Mas, a final de conta, como deve ser a participação dos cristãos no processo de escolha dos candidatos?
Diz um ditado popular que religião, política e futebol não se discute. Cada um tem o seu palpite e sua opinião. Esse ditado é perigoso na hora de escolher os candidatos, pois funciona como uma tapa que os agricultores antigamente colocavam na cabeça do burro para arar a terra. Ela reduz o horizonte de visão do burro para que ele não saia do caminho que o agricultor quer. Não querer discutir sobre política na hora de escolher os candidatos é fechar os olhos para tantos candidatos sem propósito e interesseiros da última hora. Por isso, é urgente discutir sobre política, para que os nossos cidadãos não elejam os mesmos candidatos envolvidos em corrupção.
Essa discussão é uma tarefa de todo cidadão e, principalmente, de toda a igreja cristã que quer ser fiel a Jesus Cristo. Nos Evangelhos, a fé não se separa da política. Logo após de perceber as ambições políticas dos filhos de Zebedeu, Jesus diz aos discípulos: “Sabeis que os governadores das nações as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve” (Mt 20,25-26). Essas palavras orientam os cristãos para não escolher governantes que, preocupando-se só com seus interesses ou de sua igreja, dominem e tiranizem o povo. Os governantes cristãos não devem ser assim. Devem ser servidores que fazem tudo, sem interesses próprios.
A participação das igrejas cristãs na política não deve ser corporativista. Ou seja, a igreja de bispo fulano vota no fulano. A igreja do pastor beltrano vota no beltrano. A igreja do fiel sicrano vota no sicrano. O corporativismo visa só o interesse de um pequeno grupo que tiraniza e oprime a grande massa. As igrejas não podem se tornar um curral eleitoral, como tem sido a prática ultimamente. No dia 20 de julho 2006, a CPI das Sanguessugas divulgou uma lista com o nome de 56 deputados e de um senador que estão sendo investigados. Entre os suspeitos, 19 parlamentares são da bancada evangélica que foram eleitos por suas igrejas.
A participação das igrejas cristãs na política também não deve ser partidária. Elas não devem assumir partido político. Nessa questão, elas devem ser neutras. Mas devem empenhar-se na luta geral pela justiça, ajudando a purificar a razão e formar a consciência das pessoas. O papa Bento XVI assinala: “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política (...) não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá firmar-se nem prosperar” (Deus caritas est, n. 28).
A fé e a política não são duas dimensões totalmente separadas e alheias. Elas caminham justas, são inseparáveis. A doutrina social da igreja Católica mostra que a ação política de seus fiéis tem que visar, em primeiro lugar, a dignidade do ser humano, criada à imagem e semelhança de Deus e, em seguida, tem que buscar do bem comum e não o interesse de um indivíduo ou de um grupo.
Artigo Publicado no Jornal TodoDia 23/06/08

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